O professor do futuro é um curador

Débora Aquino
Se antes o professor era aquele que dominava determinado conhecimento, e só através dele se tinha acesso a este conhecimento, hoje tudo está disponível a todos livremente. É possível encontrar videoaulas, documentários, jogos e muitas outras ferramentas que substituem esta função. É comum o aluno dizer que compreende mais um conteúdo assistindo a um vídeo no Youtube do que com seu próprio professor.
E agora? Como fica o professor, já que o aprendizado do aluno não está mais restrito a ele? Bom… Sabemos que informação não é conhecimento. Conhecimento é construído e esta é uma habilidade essencial ao aprendizado relevante.
Cabe ao professor ser o curador: aquele que seleciona o que é relevante saber e desenvolve habilidades como: pesquisa, comparação, compreensão, análise crítica e conexão. Sem estas habilidades, o aluno fica perdido em um mar de informações e não saberá selecionar o que vale a pena ou não saber. Esta nova forma de distribuição do conhecimento muda totalmente a configuração do espaço escolar e o papel do professor. O professor precisa ter consciência de que o aluno tem acesso a tudo e não ignorar o impacto que isto tem na sala de aula.
Se um adolescente fica curioso a respeito da ditadura na China, por exemplo, ele consegue informações na internet com facilidade, o que não implica em compreender o contexto. O professor é aquele que ajuda o aluno a compreender o contexto e as conexões que uma informação traz. Não temos mais necessidade de acumular informações que estão disponíveis a qualquer momento para pesquisa. Precisamos da habilidade de acessá-las quando necessário. Decorar dados hoje soa como acumular comida em casa ao invés de buscar no supermercado de acordo com a necessidade. Ou seja, não faz sentido.
O adolescente sabe disto, está acostumado a acessar às informações que necessita no dia a dia, por isso, decorar um assunto simplesmente para fazer uma prova não faz sentido pra vida. Faz sentido ter a habilidade de, ao ler uma matéria, uma história, uma notícia, ser capaz de compreendê-la de fato.
Como podemos ver, não cabe ainda ao professor querer trabalhar com temas sem real relevância ou desenvolver atividades sem objetivo claro. O objetivo de cada projeto deve ser claro tanto para o professor quanto para o aluno. A escola deve sempre estar a serviço da autonomia e do desenvolvimento humano.
 

Como fazer curadoria de conteúdo?

Existe um modelo para realizar uma curadoria, que se divide em três etapas:

  • A primeira delas é a pesquisa, que consiste no acompanhamento de notícias, textos, vídeos, artigos e na identificação das melhores fontes. Além de fontes físicas como livros e revistas, há diversas ferramentas online que ajudam o trabalho do curador – O uso de alertas do google e RSS feeds de blogs relevantes também podem ser de extrema utilidade para se manter constantemente atualizado.

  • A segunda etapa é a contextualização: Como já dito, é importante que se dê um sentido ao que é trabalhado, de acordo com os interesses do segmento e ganho real em aprendizado.

  • A terceira é o compartilhamento em si, e aqui é preciso definir por meio de quais canais ele será realizado. Se por meio de vídeos, debates, pesquisas individuais, em grupo e a metodologia propriamente.

Não adianta fazer uma curadoria de conteúdos e transmitir em uma monótona aula expositiva , não é? É preciso criar o engajamento necessário para que a coisa toda aconteça, tornar o conteúdo significativo ao aluno e também respeitar seu jeito de aprender.
Se pararmos pra pensar: “por que a escola existe?”, a explicação lógica seria para desenvolver habilidades para a vida, para dar ferramentas a uma vida melhor. A escola deve existir em função do aprendizado que ela propõe, e não para alimentar burocracias.
O professor existe para promover o aprendizado do aluno, e não o contrário. Se o professor não acompanha necessidades reais da vida hoje, ele se torna irrelevante. Ele continua existindo para não extinguir seu cargo, mas na prática não atende necessidades reais, e isto precisa mudar.
Termino com uma frase de  Arnold Glasgow:

“Um dos testes de liderança é a habilidade de reconhecer um problema, antes que ele se torne uma emergência.”

TEXTO ORIGINALMENTE PUBLICADO NO PORTAL EDUCAÇÃO CRIATIVA.

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